quarta-feira, 5 de junho de 2013

TEMPO - POESIA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

O tempo passa ? Não passa

O tempo passa ? Não passa

O tempo passa ? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.

CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ - Filosofia de um trovador nordestino

CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ
de Patativa do Assaré


      O presente trabalho procura apresentar em toda sua riqueza original a obra poética de Antonio Gonçalves da Silva, o popular PATATIVA DO ASSARÉ, autêntico representante da cultura do povo e expoente máximo da poesia sertaneja impregnada pela força telúrica do nordeste.
       Algumas das poesias de Patativa, apelido que Antonio Gonçalves da Silva, inspirado cantador nordestino, ganhou por analogia à mais canora das aves nativas da Chapada do Araripe, monumental muralha natural que separa o Ceará de Pernambuco, são escritas no que ele próprio qualifica de linguagem cabocla, o linguajar da rude gente sertaneja, tão criativo de erros, mutilações e acréscimos, de permutas e transformações que os vocábulos, com frequência, se desfiguram completamente. Mas, no dizer de Arraes de Alencar, tais adulterações constituem uma fonte inesgotável de ensinamentos no estudo do idioma, na apreensão de sua índole, mostrando-lhe o gênio e as tendências, em toda a liberdade, em toda a sua natural desenvoltura.