quarta-feira, 25 de abril de 2012

SÃO BERNARDO - CONTEÚDO CRÍTICO

São Bernardo
Graciliano Ramos

Conteúdo crítico

São Bernardo é um romance de confissão, aparentado co Dom Casmurro. Narrado em primeira pessoa. Paulo Honório, após o suicídio de Madalena, solitário, decadente, põe-se a registrar a história de sua ascensão a dono da Fazenda São Bernardo, de sua tragédia conjugal e da aridez de sua vida afetiva. Como em Dom Casmurro, estão representados dois tempos: o tempo do enunciado (os eventos que ocorreram na vida de Paulo Honório) e o tempo da enunciação (o momento em que se escreve o livro).
             A duplicidade temporal está ligada ao problema do foco narrativo, monopolizado por um eu-protagonista que, distanciado no tempo, abrange com o olhar toda sua vida e procura recapitulá-la, contando-a para si e para o leitor.
            São Bernardo é uma das mais convincentes análise do sentimento de propriedade, do sentido atávico da posse, do ter anulando o ser, o cancelamento ético e afetivo na luta pela vida. As personagens e as coisas surgem no romance como meras modalidades do narrador, Paulo Honório, filho de pais incógnitos, guia de cego que se elevou a grande fazendeiro, respeitando e temido, graças à tenacidade infatigável com que manobrou a vida, pisando escrúpulos e sentimentos e visando por todos os meios o alvo que declara desde o início: "o meu fito na vida foi apossar-me das terra de São Bernardo, construir esta casa...". Como pano de fundo, o coronelismo, a sociedade patriarcal do Nordeste e a Revolução de 1930 e seus desdobramentos, que ecoam também no sertão e golpeiam o combalido (mas não arrependido) Paulo Honório.

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