quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MEMORIAL DE MARIA MOURA - Romance brasileiro

MEMORIAL DE MARIA MOURA
de Rachel de Queiroz


"Na verdade, eu já tinha dado a limpeza no bocamarte, que parecia não apresentar defeito nenhum. Quando as meninas fecharam a porta do quarto, eu peguei a chave do paiol. Entrei lá, me trepei num caixote: lá estava a arma, como eu tinha guardado na véspera, enrolada na estopa, com a vareta ao lado. Abri o pacote, enrolei tudo muito bem, arma, vareta e munição. Verifiquei mesmo se tinha bastante pólvora no polvarinho; a munição dava para uma boa carga, a pedra dava faísca...Tudo em ordem. Ele só ia poder dar um tiro. Tinha que ser tudo ou nada."
Este Memorial de Maria Moura, escrito numa idade que costuma danificar a criação de talentos mais robustos, é um mistério: o mistério da ascensão ininterrupta de um escritor de gênio, que soube, como poucos em nossa literatura e em nossa língua, unir experiência pessoal e expressão estética, lembrança e imaginação criadora, vida e linguagem. Decerto a menina da aristocracia rural cearense que, num lar culto, lia Tolstoi, esta presente neste romance épico que é quase, ou talvez, ou decerto, um dos símbolos de nossa nacionalidade, da nosa força e de nossa energia.

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